A angústia do tempo breve


Como encontrar o sentido da nossa vida na azáfama do dia a dia


Estamos a viver uma espécie de civilização do imediato. Historicamente esta era tem as suas raízes na sociedade de informação, com o despoletar da informatização, das comunicações móveis e da comunicação online, que oferecem à aldeia global de McLhuan (1962) o seu efetivo apogeu.
Neste contexto, somos atualmente dominados pelo tempo breve.
E nesta economia da brevidade, que conferimos ao que fazemos e ao que desejamos, acabamos por condicionar os resultados que obtemos e a nossa própria existência. É a dieta que começámos e cujo efeito «nunca mais se nota», os nossos filhos «que demoram a obter os resultados escolares desejados», a alma gémea «que nunca mais aparece», o reconhecimento profissional «que teima em ocorrer». Centrados no tempo breve vivemos dominados pela azáfama da rotina diária.
De tão absorvidos que estamos, deixamos de conseguir ver o que está para além do que aparece e perdemos com alguma facilidade o sentido da nossa vida. «Afinal, onde é que isto me leva?» e/ou «Para onde estou a ir?».A busca de sentido para a nossa vida não se coaduna com a brevidade com que tentamos obter resultados. Sempre que estamos com pressa, há coisas que ficam por fazer e outras que nunca terminamos. Nasce assim a sensação de que o tempo é sempre insuficiente, que não dá para nada. Mais, nasce a sensação de que nós próprios, como o tempo, não somos suficientes.
À semelhança do que defendeu Freud (1920), temos dificuldade em substituir o«princípio do prazer» pelo «princípio da realidade». Temos uma enorme tendência para usufruir, sem delongas, o que nos proporciona satisfação imediata, esquecendo que isso pode não ser o que mais nos irá nutrir e satisfazer no futuro. Aprender a deixar as coisas acontecerem, deixando-lhes o tempo que necessitam para se transformarem numa realidade que seja efetivamente a que melhor nos serve, é fundamental.
É fundamental para restaurar a nossa fé na dinâmica natural da vida. Leva-nos a ficar mais perto da natureza e dos seus sábios ciclos. Permite-nos refletir e agir de forma adequada face ao que nos acontece. Recorda-nos que também nós funcionamos por ciclos de crescimento, com paragens, renovações, morte e mudança constantes. E que tudo isso não é nada mais que viver. De forma assumida.
Sempre que abreviamos os processos estamos a retirar sentido aos factos e aos acontecimentos deixando de entender porque estão a ocorrer na nossa vida. Estamos, por conta própria, a interromper o nosso percurso de crescimento. Não permitimos sequer que o novo se instale, se organize e se mostre. Esta angústia do tempo breve impossibilita-nos também de sentir como é habitar dentro de nós mesmos com os nossos medos e os nossos fantasmas. Também eles precisam de completar o seu ciclo de vida. Só assim podem transformar-se e terminar. Talvez por isso o tempo breve seja, por outro lado, tão atraente. Evita esta entrada em nós, no nosso Eu mais profundo, que por vezes tanto nos agride e doi.
O desejo de que as coisas corram depressa e os resultados surjam rapidamente, traz para a nossa vida muito stress e limita a nosso bem-estar. Ficamos na ansiedade de saber rapidamente o resultado do que plantámos e não nos permitimos afrouxar para dar oportunidade a que as sementes se materializem. Como disse Johann Peter Hebel (1760), «nós somos plantas que, quer nos agrade quer não, apoiadas em raízes, têm de romper o solo para florescer e dar frutos». Cabe-lhe a si este mês perguntar-se o que está a fazer para deixar as suas raízes fazerem o seu caminho.
Texto: Teresa Marta (mestre em relação de ajuda e consultora de bem-estar)

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