Eu aguento-me!

«É importante não parar. Não desistir. Não é isso que nos dizem desde pequenos?

Quando era gestora corria compulsivamente atrás de objetivos. Meta após meta, cada dia era vivido como se nele existisse uma grande parede que haveria de escalar rumo ao sucesso, mesmo que isso significasse não ter vida própria.
Trabalhava desenfreadamente para melhorar a minha performance, as metas que me estabeleciam e as que impunha a mim mesma.
Para pior ou para melhor, conseguia-o! Foi assim ao longo de 19 anos. Emoções? Afectos? Isso era algo menor que devia ser deixado à porta do emprego e de tudo o que significasse o lado profissional. Não digo que isto fosse simples de fazer. Mas era fazível. Nessa altura, o meu pensamento recorrente era «Eu aguento-me!». E aguentei-me, é certo, à custa da minha própria saúde que me levou à especialidade de oncologia.
De facto, eu vivia uma luta comigo própria. O confronto entre a dimensão pessoal e profissional. Uma luta que ao longo dos anos se tornou insustentável. Durante este longo tempo de azáfama, esqueci-me de algo muito simples, que nós somos mais felizes onde pertencemos. Saber o sítio a que pertencemos na vida é algo reconfortante e que nos dá imensa segurança.
Se quiser saber se o sítio onde está neste momento na sua vida é ou não aquele ao qual pertence, pergunte a si mesma como esse sítio a faz sentir (quer seja um relacionamento, um emprego, uma cidade, uma casa ou uma dieta). Se o que lhe vier como resposta for angústia, cansaço, desânimo, falta de vontade de continuar, há algo que tem de mudar para não prejudicar o seu bem-estar nem a sua saúde.
Por natureza somos persistentes. Aguentamo-nos. É o dom da vida. Magoamo-nos e saramos. Por isso, muitas pessoas continuam a esforçar-se imenso para serem melhores, diferentes ou reconhecidas. À medida que vão sendo bem sucedidas esforçam-se ainda mais. É importante não parar.
É importante não desistir. É isso que nos dizem desde pequenos. Desistir foi-nos comunicado como sinónimo de fracasso. Nunca nos disseram que desistir, largar, podem ser as atitudes inteligentes para a concretização dos nossos objetivos e para o nosso bem-estar. Por isso, continuamos a repetir a frase «Eu aguento-me».
Muitas vezes camuflamos a necessidade de aguentar sob a capa da segurança. Se for bem sucedida, se não errar, se não fracassar, sinto-me mais segura, a minha vida é mais próspera, os que estão comigo ficam mais seguros. Se esta imagem tem sentido para si, pergunte-se «Estará na altura de abrandar? Será que passa tempo de mais a tentar ser quem os outros esperam que seja?», interrogue-se.
Neste hábito de perseguirmos objetivos em contínuo esquecemo-nos de deixar lugar para os planos que a vida tem para nós. Desistimos de viver as nossas paixões e deixamos de fazer o que gostamos para cumprir um conjunto de obrigações que julgamos serem em prol da carreira, do sucesso, da prosperidade e da felicidade. Isto significa geralmente passar mais tempo a fazer coisas que nos esgotam e nos tiram alegria ao invés de nos focarmos nas coisas que nos estimulam e nos fazem sentir bem.
Por isso, como garantia do seu bem-estar, mais importante do que sentir que aguenta é obter resposta às perguntas «É isto que quero?», «E se o quero, ainda faz sentido para mim?» e «E contribui para o meu equilíbrio?». Se respondeu que não a alguma destas questões, talvez esteja a aguentar de mais e, em consonância, a viver de menos. Se assim é, mude de atitude. Faça alguma coisa por si!»

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